segunda-feira, 15 de agosto de 2016

No rastro da vida encontramos pessoas que nos sustentam e por acreditarem em nós, podemos simplesmente ser. Eu era uma menina de 22 anos com um diploma na mão. Uma adolescente rebelde ensaiando como ser mulher. Ainda lembro dele dizendo sobre o mestrado: "você tem capacidade de tirar em primeiro lugar". Ainda lembro do meu espanto em duvidar de cada letra. Afinal, eu achava que era só uma menina com um sonho na mão. Talvez se não fosse aquela aposta eu não teria tentando a seleção aquele ano. Fui me despindo de toda descrença da minha juventude imatura e dei o melhor de mim, mesmo com apenas uma semana para me preparar. Hoje quando vejo onde cheguei, lembro com carinho dele. Marcos certamente foi meu holding e meu guia. Ainda tento cultivar tua aposta em minha pele para continuar seguindo. Talvez eu ainda tenha um pouco daquela menina, mas tenho vários sonhos na mão.

13 de julho de 2016
Discute-se se a beleza das coisas é profanada por sua transitoriedade. Levo em mim toda a finitude de uma pele e de uma história de pontos finais. Fico aliviada pela possibilidade das vírgulas, interrogações e reticências. Fui aparelhada por compreensão e decadência. Por isso escrevo, registro e denuncio a vida por ela mesma. Apesar de tudo que passa, do que me torno e do que em mim se transforma, ainda encontro teus olhos apertados. Essa figura de um bebê acolhido por uma manta, independente das marcas que o tempo deixou. Por seus olhos sou eu mesma. Isso ultrapassa a mutabilidade e faz a vida valer a pena. Sempre que re-encontro você pessoalmente sou lançada a conhecer as novidades de tuas possibilidades existenciais. Amo-te! 

Para @maironbarbosa 
Minha vaca ♡

19 de junho de 2016
Por entre a pele envelhecida eu perdia minha capacidade de sonhar. Estava arremessada na possibilidade do não-possível. Inerte e desvastada. Outrora era eu quem precisava de um braço para caminhar, de ajuda para comer. Agora era ela, quem precisava de mim... Mas ainda era eu que se sentia uma menina assustada e impotente. Ainda era eu quem continuava fugindo por não saber lidar com a realidade. Suas histórias perpassavam minhas lembranças enquanto eu segurava suas mãos e despedaçava por dentro. Eu fingia estar inteira e silenciava diante de suas ilusões. Ela queria voltar para casa e eu também. Ela por saber sonhar e eu por já não conseguir. 

Rebeka Gomes

26 de julho de 2016
Algumas pessoas são tão sensíveis a vida que ela transborda. Parece que o corpo não vai suportar ou aguentar. O que, afinal, não se aguenta mais? Aquela sensação de sangrar para continuar se sentindo viva, quando na verdade se está tão viva, em carne viva. Que qualquer toque do outro parece que queima a alma ou congela. Quais os encaminhamentos que podemos dar para isso, afinal? Não há fórmulas ou receitas de bolo, nem se trata de ter ou não fé. Trata-se da próprio sentido ou não-sentido que damos a vida. Ou o fato dela parecer que não vale a pena de ser vivida. Mas parece que se encontrou uma modo para transbordar e aqui estamos nessa via virtual compartilhando nossas existências.

10 de agosto de 2014

terça-feira, 12 de julho de 2016

Partida

Eu estava em pedaços nos lençóis depois da tua última partida. Arremessada em todos os sonhos que tive. E foram tantos, meu amor. Num único dia eu era capaz de imaginar toda uma vida ao teu lado. Eu desenhava nossa banalidade por entre as paredes. Mas chegou a hora de matar um por um, eu sabia. Era a única forma que eu conseguia lidar com isso. E eu sabia o quanto sangraria neste apartamento. Mancharia a cerâmica e vomitaria corações. A navalha estava em meu projeto de ser desde sempre. Fazendo os cortes e nenhuma corte. Eu estava partida por dentre teu cheiro no travesseiro. Tentando recompor minha sanidade. Matando a plenitude que você deixa em mim. Precisava voltar as dores. Precisava parir uma nova versão minha sem você. Estava impregnada dos sorrisos que você deixou. Eu sou covarde, eu sei. Não tenho culhões para amar. Eu tenha uma deficiência existencial. Eu era incapaz de te fazer ficar. Mas agora eu só preciso conseguir ir embora quando tudo que eu desejo é  ficar. 

Rebeka Gomes

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Morto-vivo

Todos os mortos me arremessam na vida. Lembram-me dos cadáveres vivos que levo em meu peito. Vou recolhendo as memórias e habitando minha história, enquanto a saudade de ser menina nos braços do meu pai me invade. Vou desfalecendo em lágrimas e suor. Lembro dele tentando me ensinar a dirigir um carro, para quem sabe aprender a dirigir a própria vida. Eu não tinha pernas para alcançar o acelerador e mal conseguia olhar a estrada, mas ele me sustentava. Eu achava que ele havia me ensinado a empinar pipa, andar de bicicleta sem rodinhas, ensaiar a dirigir e pilotar. Ele estava mesmo era me ensinando a habitar meu corpo e não ter medo de agarrar as redias da minha existência. Sem ele por perto eu tenho muito medo de viver. Medo de cair, de quebrar-me em pedaços. Medo. Muito medo. Eu sinto falta daquela sustentação invisível que os olhos do meu pai ressoavam. Com ele por perto eu podia ser filha. Com tudo que ela palavra pode habitar. Quando fecho os olhos posso sentir a emoção de dar as primeiras pedaladas sem rodinha. Sinto o impulso daquelas mãos me encorajando a ganhar o mundo. E todas as vezes que eu caía, ele estava lá me ajudando a tentar outra vez. Eu sou a Rebeka do Paulo, João Paulo. A menina dos olhos do mundo. A mulher que ele nunca conheceu. A garota que flerta com os mortos para lidar com a vida, escrevendo para respirar. 

Rebeka Gomes

sexta-feira, 8 de julho de 2016


Eles vão tentar minar tua capacidade de sonhar ao mesmo passo que roubam tua voz. Corra! Esconda-se! Tente manter qualquer sanidade sonhando no escuro, quando eles não estiverem vigilantes. Sob o nome do princípio de realidade eles tentaram fazer com que deixes de acreditar. Então, mantenha teu rosto nesta maré de máscara. Corra! Construa alguma integridade e siga olhando o horizonte, pois diante dele a contingência da vida colocasse possível. Sonhe! Não como um modo ilusório diante da vida, mas como forma de atualizar tua potência existencial. E quando eles te amordaçarem, encontre um lugar apenas para ser.

Rebeka Gomes

02-12-15